terça-feira, 4 de janeiro de 2011

...um início possível...

CAÇUÁ

   Dei o título de "um início possível", porque essa canção está presente na construção do meu imaginário como um divisor de águas. Essa canção foi composta para ser uma dupla homenagem, às minhas lembranças de uma Sumé-PB inesquecida e Juá de Casa Forte, hoje amigo, grande compositor.
   Lembro que a primeira vez que ouvi uma música de Juá foi na voz de Juh Vieira (músico e parceiro de Juá) em companhia de Memeu Cabral (músico e amigo) em um sarau que aconteceu no Shangai, Mogi das Cruzes-SP, eu não conhecia os dois, melhor os três, ainda, e Juh cantou UM BAIÃO PARA O MEU CALUNDU, composição dele e de Juá. Aquela música mexeu com a minha consciência de tal forma e me tocou tão profundamente que considerei o momento epifânico. Precisava conhecer Juá.
   Fui à Liberdade em São Paulo com o endereço que Memeu havia me dado para conhecer o Famigerado, quando ia tocar o interfone me aparece na porta Memeu acompanhado de Juá, nos apresentamos, andamos, bebemos... e essas são outras histórias, para outro blog.

CAÇUÁ
(meyson)

êh, ê gado \ êh, ê saudade
êh, ê gado, êh boi \ êh, ê saudade

o que canta dentro de mim \ são as águas do sucuru
a lenda dos cariris \ um baião pro meu calundu
sertão que eu deixei pra trás \ na delícia do teu cuzcuz
me espere que vou voltar \ demoro mas chego já
e trago no caçuá \ a memória de um tempo bom
com a ponta do meu facão \ risquei no alpendre dois coração


êh, ê gado \ êh, ê saudade
êh, ê gado, êh boi \ êh, ê saudade


cirandam dentro de mim \ lundus a campina em flor
florou um mandacaru \ então não tarda chover no chão
porteiras vão se abrir \ felizes se eu entoar
os versos que eu fiz pra ti \ demoro mas vou voltar
tão pouco pra se feliz \ errei quando eu vim pra cá
saudade me fez chorar \ demoro mas vou voltar


êh, ê gado \ êh, ê saudade
êh, ê gado, êh boi \ êh, ê saudade

que o chicote do rio nas pedras \ beija o limo molha os seixos
leva os grãos deixa em meus beiços \ o frescor de um madrigal
meio que interpreta um temporal \ capim da margem contracanta
no afã da mão que o afronta \ como a podar um canavial

êh, ê gado \ êh, ê saudade
êh, ê gado, êh boi \ êh, ê saudade

.




sucuru - rio da cidade de Sumé-PB
cariris - tribo indígena comum da região do semi-árido nordestino
calundu - mau humor, comum entre casais
caçuá - cesto grande de cipó ou vime para cangalhas, geralmente usado em animais de carga
lundus - canção, música em geral de caráter cômico ou picaresco, dança rural e canção de origem africana, acompanhada de cantos, muito popular no Brasil a partir do séc. XVIII


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juh

juá

memeu

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